A praça! A praça é do povo
Como o céu é do condor
(do poema de Castri AllveCas, ” O Povo ao poder”)
(do poema de Castri AllveCas, ” O Povo ao poder”)
“A minha vida, ao longo dos últimos 50 anos, sempre foi uma pauta constante”, afirma o jornalista Fausto Brites, diretor e editor geral do Zero Um Informa, ao falar do seu meio século de profissão ininterrupta, iniciada aos 17 anos de idade no jornal diário Correio do Estado, de Campo Grande. No dia 15 de janeiro de 1975 ele escreveu seu primeiro texto em uma redação e, desse então, não parou mais.
Na redação do jornal Correio do Estado, Fausto Brites em 1975
“De uma pequena máquina de escrever, da marca Remington, que usava como aprendiz de jornalismo, aos computadores de hoje, no auge dos meus bem vividos 66 anos, prestes a completar 67, posso dizer com orgulho e sem falsa modéstia que o meu bom Deus me proporcionou o privilégio de poder contar a história de um tempo e fazer parte da história”, afirma o decano jornalista.
Mas, como tudo começou? Fausto Brites conta que seu pai, o ferroviário Clementino Cáceres de Brites, costumava levar para casa, jornais e revistas, como a hoje extinta Cruzeiro, que alguns passageiros da linha Bauru (SP)- Campo Grande abandonavam no trem e seriam jogadas no lixo.
“O papai também não deixava de, todos os dias, comprar os jornais Correio do Estado e Diário da Serra. Isso era nos anos 1970, quando eu tinha meus 12 anos”. Diz que “devorava” os extos e, depois, ia “contar tudo que lia” para sua mãe, a dona de casa Ramona Mariuza.
“Eu ficava fascinado com aqueles textos, fossem das revistas,fossem dos jornais, e pensei que se tivesse oportunidade, seria jornalista”, diz. Essa oportunidade, segundo ele, surgiu quando leu um anúncio no jornal Correio do Estado abrindo teste para jovens interessados em trabalhar na redação. “Eu tinha 17 anos e era office-boy no escritório de contabilidade do meu irmão. Não pensei duas vezes: fui fazer o teste, fui aprovado e contratado. Aí minha jornada começou”.
Fausto Brites explica que iniciou na redação como repórter policial. Depois, passou por outras editorias como a de economia, cidades (geral), variedades, política e de reportagens especiais. Fez paralelamente incursões em programas de rádio. Ao longo da carreira foi chefe de redação em vários órgãos de imprensa e correspondente em revistas de circulação nacional.
Jornalista Faustro Brites e o hoje vic-governador José Carlos Barbosa, o Barbosinha,, ao ser homenageado na Assembleia Legislativa e Mto Grosso do Sul com a Mdalha de Mérito Jornalístico J. Barbosa Rodrigues, em 2028
Ao longo desses 50 anos, participou de várias campanhas eleitorais, inclusive coordenando equipes dos programas de rádio de candidatos. Foi assessor de imprensa nas áreas do Executivo estadual e municipal, bem como do Poder Legislativo de Mato Grosso do Sul sendo um dos responsáveis por levar ao ar a TV Assembleia (da Asembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul). Recebeu homenagens, como na própria Assembleia Legsilativa com a Medalha de Mérito Jornalístico José Barbosa Rodrigues (instituída pelo projeto do então deputado estadual Maurício Picarelli), bem vomo como pela Câmara Municipal de Campo Grande (indicação do então vereador José Chadid).
Site Zero Um Informa
Há 12 anos criou o site Zero Um Informa com sua esposa, a artista plástica e jornalista Eli Morais de Brites, que é a diretora-executiva. Ele explica a escolha do nome: “Meu registro profissional no Estado é MTb 01/01/01, ou seja, 01, da página 01 e do livro 01”.
Jornalistas Fausto Brites e Eli Morais de Brites
O jornalista Fausto Brites foi responsável pela implementação do Portal Correio do Estado. “Foi um convite da jornalista Ester Figueiredo, então diretora-presidente do grupo de comunicação, que incluía emissora de TV e emissoras de rádio. À época eu estava comandando a Editoria de Cidades do jornal e ela queria colocar no ar um portal de notícias”.
Para o jornalista, não houve dificuldades em deixar o jornal impresso para a internet, devido às suas características de comunicação. “Penso o seguinte: em tempos remotos, o que se utilizava para contar a história, registrar um acontecimento? As inscrições rupestres eram, digamos, o ‘jornal’ da época nas rochas. Evoluímos, temos as telas dos computadores, dos celulares. Mas o que não muda e não deve mudar: a responsabilidade em bem informar, de evidenciar a essência do jornalismo responsável”, finalizou.
Com registro de ao menos três mil visitantes nos fins de semana atraídos bela exuberância da natureza emoldurada pelos portentosos Morro do Chapéu, Morro do Paxixi e Morro Azul, com o não menos importante Rio Aquidauana, o distrito aquidauanense de Coronel Camisão, na Estrada Parque de Piraputanga (formada também pela localidade do mesmo nome e por Palmeiras, este, pertencente ao município de Dois Irmãos do Buriti), vem ganhando cada vez mais a atenção pelo seu potencial nessa rota turística. O setor imobiliário, com cinco loteamentos e 750 terrenos onde estão havendo construções residenciais, cresce significativamente e empreendimentos estão sendo implantados na região fazendo com que o poder público de Aquidauana e o governo do Estado façam estudos de mais investimentos em infraestrutura e acessibilidade que os moradores, um total de 1.380 pessoas, esperam ansiosos. Entre esses empreendedores, quatro mulheres se destacam seja pela visão de futuro, como em função do trabalho que desenvolvem no ramo da gastronomia. Assim, aqueles que chegam até a localidade, vindos de veículos particulares, ônibus fretados, bicicletas e motos, têm oportunidade de curtir a natureza, com a oportunidade de saborear comida típica, como arroz com pequi, e pratos à base de peixes.
São elas, portanto, uma das grandes responsáveis pelo movimento no comércio. Cada uma com sua história de vida e acreditando no próprio potencial para contribuir no sentido de que Camisão se transforme em importante polo turístico. O presidente da Associação dos Moradores de Camisão, Cleomir Luiz Cristaldo, ressalta a importância desses estabelecimentos para o turismo:
— Há alguns anos, eram apenas barzinhos, de uma porta só, atendendo meia dúzia de gente tomando cerveja. Não tinha comida. Se chegasse àquela época aqui e pedisse algo para comer, mal você conseguiria uma mortadela — afirma.
Visão de futuro
Dois momentos de Neguinha: na pescaria (acima) e, na cozinha, com os filés de pintados
Acordar de madrugada, remar em sua canoa pelo Rio Aquidauana, dormir na cabana de lona que acha ‘’muito aconchegante’’, passar ao menos 15 dias pescando para fazer estoque e transformá-lo em seus famosos pratos para levar à mesa dos clientes’’ às sextas-feiras, sábados e domingos. Essa é a rotina de Eronildes Constant dos Santos, dona do Restaurante da Neguinha, desde 2019, no Distrito de Camisão, município de Aquidauana.
Márcia Mara, em frente ao estabelecimento
Na mesma via, batizada popularmente de Avenida Principal, mas cujo nome oficial é Demósthenes Martins (ex-prefeito de Campo Grande e ex-secretário de várias pastas do então Estado do Mato Grosso), um outro empreendimento é o de Márcia Mara Serra Ribeiro que não esconde seu entusiasmo de morar ‘’nessa maravilha da natureza’’, como denomina o distrito. Ela é proprietária do MN Restaurante, que inaugurou há três anos. Prefere falar sobre o futuro da região, do que das dificuldades. “Aqui é a terra do progresso’’, afirma.
Patrícia no comando da cozinha elaborando saborosos pratos
Ainda na avenida, Patrícia Alves comanda a cozinha no seu Sabor de Peixe onde, há três anos, transformou a conveniência do esposo Waldemir Oliveira dos Santos em um estabelecimento para receber clientes interessados em gastronomia diversificada à base de peixe. Situação hoje muito diferente quando atendia mais a comunidade local com sanduíches (pão e hambúrguer) e apenas o tão comum prato feito, com costela frita de pacu. ‘’A realidade hoje é diferente e muito melhor’’, afirma.
Dilcéia diz que ser comerciante ”está no sangue”
Apresentando-se como ‘’camisolense da gema’’ Dilcéia Vila Maior da Silva é neta e filha de tradicionais comerciantes do Distrito de Camisão. Proprietária do restaurante Águas do Paxixi, também na via principal, fala, com muita convicção, que não resta dúvida da importância turística da localidade, porém afirma que há necessidade de se fazer investimentos em infraestrutura para oferecer maior comodidade, segurança e acessibilidade nos atrativos oferecidos pela natureza e fonte de interesse dos visitantes.
Neguinha, a pescadora
As quatro empreendedoras tiveram como ‘’curso de especialização’’ apenas a visão de futuro quando decidiram dar uma guinada na rotina que mantinham nos praticamente últimos quatro anos. A Estrada Parque de Piraputanga foi um norte para tomar a decisão.
— Não me chame de Eronildes; aqui só me conhecem por Neguinha — afirma, sempre sorridente, a dona do restaurante. Casada com Adilson Ramos, ambos se dizem exímios pescadores. Hoje, porém, é ela quem se encarrega de trazer os peixes (das espécies pintados, pacu e jiripoca, principalmente) para servir à clientela que, a cada dia que passa, tem aumentado.
— Muitos turistas vêm de outros estados para conhecer os nossos pratos. Um prefeito de cidade do interior de São Paulo esteve aqui, com sua equipe e elogiou muito. Um argentino também veio aqui e disse que ia experimentar cada coisa do cardápio. Adorou o nosso pastel e o escondido, feitos de carne de peixe — conta. Disse ainda que uma cliente amiga levou um convidado que seria um xeque.
Alguns dos pratos oferecidos no Restaurante da Neguinha
Os antigos companheiros de pescarias pelo Rio Aquidauana — esposo, o filho Roger e o irmão Valmir Constant – hoje estão em outras funções: os dois primeiros são os garçons no restaurante e, o terceiro, é um exímio carpinteiro.
— Essas mesas e as cadeiras aqui do Neguinha foi ele quem fez e me deu de presente — diz ela.
— Na minha canoa eu levo todas minhas traias para ficar todos esses dias acampada — conta Eronildes que explica trabalhar à moda antiga, nada de molinete ou outro tipo de equipamento, e sim se utilizando da linhada de mão (linha com anzóis enrolada em uma garrafa). A isca que ela utiliza é a carne bovina’.
— Pacu gosta de carne de vaca — afirma, dando boas risadas.
Neguinha e o marido não têm dúvida que Camisão é uma região plena de desenvolvimento. Em 2019 decidiram deixar de viver da venda de peixes, para criar um restaurante. O que era uma vendinha onde Adilson comercializava salgadinhos para aumentar a renda de pescador, montada em um ‘’salão de 5×5’’, hoje é um amplo espaço com varandas na lateral e na frente, além da cozinha bem montada. E a ideia é ampliar ainda mais pois afirmam que a Estrada Parque de Piraputanga ajudou, em muito, no aumento do movimento.
Contribuiu para essa decisão de empreender em novo negócio o fato de ela ter conquistado o 1º lugar no concurso gastronômico da Festa do Peixe. O prato? Escondidinho de Jiripoca. Com o restaurante montado e o sucesso dos seus pratos, ela ganhou notoriedade e foi entrevistada para o programa da apresentadora Ana Maria Braga, da rede Globo. Recebeu também homenagem (em maio de 2022) na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul com a Comenda do Mérito do Trabalho Wilson Fadul, de autoria do então deputado Felipe Orro. Sempre sorridente, Eronildes afirma: ‘’Camisão é o futuro’’.
Do hambúrguer aos peixes
A visão de empreendedora de Patrícia Francisca Alves uniu o útil ao agradável para ampliar os negócios e conquistar renda maior. Com a Estrada Parque de Piraputanga totalmente asfaltada e atraindo cada vez mais os turistas para a região, ela decidiu colocar em prática, de forma mais acentuada, o prazer pela gastronomia. Assim, a tradicional conveniência ‘’Amigos do Vovô’’, de seu esposo Waldemir Oliveira dos Santos, transformou-se em Restaurante Sabor do Peixe.
— O aumento do número de clientes foi de mais de 80% — afirma.
Patrícia é campo-grandense e foi morar em Camisão há alguns anos para ficar próxima à irmã a quem, segundo ela, é ‘’muito apegada’’.
Conta que conheceu Waldemir e se casaram. Ele, há 16 anos era proprietário da conveniência batizada com seu apelido ‘’vovô’’. Ela conta que o marido desde os dois anos de idade era chamado assim na casa da família e o apelido acabou ‘’pegando’’.
Moquecas de pintado, pastel de peixe, peixe frito, filé ao molho de urucum, são alguns dos pratos do Sabor do Peixe
Como gostava de cozinhar e para auxiliar no rendimento familiar, Patrícia decidiu vender lanches e pratos rápidos a base de peixe frito, no estabelecimento do ‘’Vovô’’. Devido à estrada de terra e muitos buracos, a frequência ficava mais restrita aos moradores do distrito porque poucas pessoas passavam por Camisão em direção à Aquidauana, ou vice-versa.
Mas, segundo ela, há cerca de quatro anos a situação mudou completamente. A Estrada Parque de Piraputanga alavancou o empreendimento de Patrícia e Waldemir. Ela vislumbrou novos tempos e, junto com o marido, decidiu transformar a conveniência em um restaurante e, assim, surgiu o Sabor do Peixe. Daqui para frente, é ‘’continuar ajudando no desenvolvimento de Camisão’’, frisa.
A troca da Capital pelo interior
Depois de mais uma vez visitar Camisão para descansar dos dias agitados no restaurante que possuía em Campo Grande e onde servia comida caseira, no Jardim das Nações, Márcia Mara Sena Ribeiro conversou com o marido e decidiram mudar-se para o distrito e começar um novo empreendimento.
— Percebi que aqui (Camisão) tinha potencial. É uma região muito bonita e resolvi apostar em um restaurante à base de peixe. O meu marido fazia esses pratos em casa, para a gente mesmo. Hoje aqui no MN Restaurante e Conveniência ele é o cozinheiro. A parte administrativa e a de atendimento aos clientes ficam por minha conta — explica.
Seu estabelecimento ganhou fama pois a divulgação nas redes sociais e a ‘’propaganda boca a boca’’ contribuiu para que o movimento aumentasse. Além dos turistas que visitam o seu empreendimento, antigos fregueses de Campo Grande costumam comparecer para saborear seus pratos, como o peixe a urucum e o bolinho de bacalhau.
De pintado a molho de camarão a bolinho de bacalhau, o Restaurante MN a todos os gotos
– Começamos a atender em duas portinhas e, aí, fomos investindo devido a procura. Construímos esse varandão e colocamos mais mesas pois vêm muitos turistas de outros estados. Muita gente vem de cidades próximas e a Estrada Parque é rota dos grupos de ciclistas e motociclistas. Nós aqui atendemos de segunda a segunda-feira e servimos café da manhã, almoço e janta. Felizmente estamos contribuindo para gerar rendas.
Márcia afirma que espera investimentos do poder público, como a construção de uma praça para realização de eventos e outras melhorias para que os visitantes se sintam cada vez melhor,
— Uma coisa eu digo prá você. Sair daqui, nem pensar.
Volta às origens
Depois de morar 10 anos em Campo Grande e atuar em outras atividades, como salão de beleza, por exemplo, Dilcéia Vila Maior da Silva, voltou para Coronel Camisão onde passou a auxiliar a mãe que mantinha uma pousada e fornecia refeições para alguns visitantes, principalmente para quem vinha pescar.
— O comércio está no meu sangue, pois sou neta e filha de comerciantes. Eles sempre tiveram daqueles armazéns (fora da via principal) que forneciam todo tipo de mercadoria. Ajudava minha mãe e ela me ensinou a cozinhar.
Peixes fritos e ensopados de peixes fazem parte do cardápio de Dilcéia
Era, porém, um período difícil, segundo ela, pois o asfalto ligava Aquidauana a Camisão (pavimentação feita no governo de Pedrossian), mas quem vinha de Campo Grande, por exemplo, tinha que enfrentar muitos buracos na estrada de terra no sentido Piraputanga.
Em 2015, Dilcéia decidiu ‘’vir para o asfalto’’, ou seja, se instalar na avenida Demósthenes Martins, a Avenida Principal, criando o restaurante Águas do Paxixi onde prepara pessoalmente os pratos, tendo como fiel escudeira a filha Carol Acelita (na administração) e da ajudante Talia Pereira de Souza (nos fins de semana quando a casa lota). Dessa forma, o movimento aumentou ‘’100%’’. Seu tino para o negócio faz com que mantenha ainda uma mercearia e durante a semana fornece prato feito e marmitex para trabalhadores das obras dos empreendimentos imobiliários de Camisão. Ela defende melhorias para atender as necessidades dos turistas como pavimentação — com paralelepípedos, sugere — do acesso ao Mirante do Paxixi, bem como locais para estacionamento seja de veículos de passeio, como de ônibus, motos e bicicletas, além de serviço de limpeza visando preservar a natureza e por onde os visitantes passam. Uma preocupação que mostra seu interesse pelo desenvolvimento e preservação do meio ambiente.
— Quero sempre o melhor em todos os sentidos para a terra onde nasci — afirma.
‘’Nossa maior riqueza é o Rio Aquidauana e, a outra, é a Estrada Parque’’, diz presidente da associação
— Antigamente ninguém vinha aqui. Camisão e Piraputanga eram dois distritos não muito conhecidos.
O comentário é de Cleomir Luiz Cristaldo, presidente da Associação de Moradores de Camisão, distrito onde nasceu. Ele aponta como dois fatores de ‘’grande mérito’’ para que o local ganhasse visibilidade: A Festa do Peixe (no início de outubro) e a Festa do Pequi (começo de janeiro). Conta que foram buscar apoio junto ao poder público e foi quando houve a visita do então governador Reinaldo Azambuja.
— Foi ele quem realizou o nosso sonho ao asfaltar essa rota, dessa Estrada Parque. Aquele portal (na entrada do Distrito de Palmeiras) é novo. Aquela descida tinha muita terra, buracos, era um perigo. Reinaldo foi um baita de um parceiro para todos nós de Camisão e Piraputanga. Ele trouxe o progresso para cá. Nossa maior riqueza é o Rio Aquidauana; depois é a Estrada Parque — afirma.
Disse que, com a Estrada Parque, os eventos atraíram muitas pessoas que, também, passaram a ir, por exemplo, ao Mirante do Paxixi (Morro onde são celebrados até casamentos). São vários ciclistas, motociclistas, e outros visitantes que vêm passear e ‘’assistir’’ essa beleza, enfatizou.
Explicou também que a média de três mil pessoas que chegam ao distrito, de sexta-feira a domingo, aproveitam para um roteiro turístico na Cachoeira do Mirante, de quatro metros de queda, (de difícil acesso e não recomendada para mulheres e crianças), à Cachoeira do Morcego, que fica dentro do Rio Aquidauana e onde se pode descer por caiaque, e ainda ao Morro do Chapéu.
— O pessoal vem para conhecer nossos pontos turísticos e a nossa culinária. Camisão e Piraputanga, além das belezas naturais, são conhecidos pelo nosso peixe frito. Os preços não sangram o coração de ninguém — afirma.
Sobre a questão de hospedagem, ele diz que Camisão pode melhorar ainda mais. Explica que atualmente são quatro pesqueiros com quartos e uma pousada. Aponta ainda a necessidade de melhor acesso ao Morro do Paxixi, pois há dificuldades quando ocorrem chuvas e no período de seca, devido a poeira. Além disso, diz que é preciso de mais guias turísticos e ainda dotar o distrito de espaço para descarte de lixo. Defende campanha de orientação aos visitantes e divulgação institucional mais intensa.
— O Riedel (governador Eduardo Riedel) esteve aqui na época da campanha eleitoral, viu toda a realidade nossa e disse que ainda nos dois primeiros anos de sua administração, se eleito, iria asfaltar essa estrada que leva ao Mirante do Paxixi. Camisão, recebendo cada vez mais melhorias, com certeza será um dos importantes polos turísticos de Mato Grosso do Sul, atraindo visitantes de outros estados e turistas estrangeiros, como, aliás, já vem acontecendo — finalizou, entusiasmado.
— Nós sempre acreditamos que Camisão seria atração para turistas — diz o guia turístico Evaristo ‘’Coelho’’.
Ele nasceu e foi criado em Camisão e o ‘’Coelho’’ é um apelido que ele adotou, informalmente, como sobrenome.
— Fomos (os moradores) vendo que o distrito tinha tudo de bom para o turismo e aí com apoio da Prefeitura de Aquidauana o pessoal animou. Antes a gente sobrevivia da pesca. O pessoal era credenciado na Colônia de Pesca de Aquidauana.
Sobre Camisão, conta que a localidade foi grande produtora de banana e que chegava a mandar a fruta para Corumbá, por trem, até meados de 1983. Para ele, a perspectiva do turismo como fonte de renda traz alento para a localidade.
No Paxixi, segundo ele, são oito fazendas e há 12 hectares de plantação de piqui. Mas, o mirante e as cachoeiras no morro são os maiores atrativos para vislumbrar as belezas naturais.
— A minha Camisão é a terra do turismo. Eu acredito e tenho fé!
.O ex-deputado, escritor e cientista político Sergio Manoel da Cruz e o jornalista Fausto Brites, quando do lançamento da publicação “História da Fundação de Mato Grosso do Sul”, na quarta-feira (10), na Assembleia Legislativa de MS. O ex-parlamentar e autor da obra, que também é jornalista de formação, revela os bastidores do movimento separatista até a criação do Estado. O posfácio é assinado pelo presidente da Assembleia, deputado Gerson Claro, que foi professor de História.
Por Fausto Brites
Favela do Segredo, também conhecida como Favela do Querosene. Assim era chamado um núcleo de moradias formadas por barracos em plena área central da cidade, às margens do Córrego Segredo, depois da Avenida Marginal, atual Avenida Ernesto Geisel. Centenas de famílias ocupavam – ilegalmente – a área, que se iniciava na Rua 26 de Agosto, até o local onde hoje está o Horto Florestal. Os barracos ocupavam as duas margens do córrego, hoje Avenida Ernesto Geisel. A prefeitura tinha de desocupar o trecho, uma vez que estava fazendo a canalização do córrego, e homens e máquinas teriam de transitar por lá, na execução dos serviços.
A mudança representaria o surgimento da primeira favela oficial de Campo Grande. Em um domingo, estivemos no local – o chefe de redação Antonio João Hugo Rodrigues, Montezuma Cruz e eu – para fazer a reportagem que foi publicada no jornal Correio do Estado, no dia 13 de abril de 1976. A favela estava prestes a ser removida.
Por que removida? Na realidade, as famílias seriam levadas para outra área, onde ergueriam seus barracos. Não ganhariam casa: cada um receberia um lote e ficaria responsável por construir sua respectiva moradia. O prefeito da época, Levy Dias, anunciou uma “ajuda de custo” de 1.500 cruzeiros para quem efetivamente morasse na favela. Isto porque a especulação imobiliária era a olhos vistos. Muitas pessoas haviam construído barracos e os alugavam para famílias. O local escolhido foi um terreno amplo, nas proximidades da Vila Nhá Nhá.
Os que resistiam em sair alegavam que o local era distante, pois, até então, estavam no centro da cidade, em que podiam trabalhar sem gastar com ônibus ou recolher material reciclável. Além disso, a favela era próxima ao Mercado Municipal Antonio Valente (o Mercadão), no qual tinham facilidades para recolher legumes, frutas e outros tipos de mercadorias que eram descartadas por serem impróprias para a venda. Algumas famílias acreditavam que a mudança seria salutar. Outras pessoas, porém, não se importavam com mais nada. Para elas, mudar ou permanecer ali era “tudo a mesma coisa”. Conforme a reportagem publicada no dia 13 de abril de 1976, assim foi descrito o local: “A Favela do Segredo é formada por cerca de 100 casebres, cada um tendo uma média de seis moradores, dos quais, várias crianças de idades variáveis. Alguns possuem um poço de onde retiram uma água esbranquiçada e poluída, enquanto outros utilizam o córrego. As casas foram construídas precariamente, com pedaços de madeira, de latas, de materiais velhos, panos e até mesmo portas de automóveis velhos e que fazem as vezes de portões. Todos vivem em condições sub-humanas e a mudança pode favorecer vida melhor para os favelados”.
Na edição do dia 14 de maio do mesmo ano, a informação era de que a favela não mais existia. Segundo a reportagem daquela data, “apenas um barraco – a proprietária está doente – falta desaparecer para que a Favela do Querosene passe, definitivamente, à história de Campo Grande. Os 84 barracos restantes já foram levados pelos donos ou para o terreno da prefeitura na Vila Nhá Nhá (a minoria), ou para terrenos próprios (a maioria). Ontem, o prefeito Levy Dias informava que felizmente a mudança transcorreu normalmente, afora alguns incidentes pequenos e transtornos naturais, o que já era esperado.
Dos 85 favelados, quase 55 preferiram receber os 1.500 cruzeiros oferecidos pela municipalidade e mudaram-se para seus terrenos próprios ou mesmo foram para outras cidades. Enquanto isso, na Vila Nhá Nhá, como se esperava, a ‘favela oficial’ está perfeitamente adaptada. Seus moradores não reclamam e sentem-se felizes em saber que o terreninho de 8 metros por 12 de fundo, reservado a cada família, pela municipalidade, pode até mesmo ser cercado a conveniência de cada um (…)”.
No dia 27 de maio, voltei à “favela oficial” e, em conversa com os moradores, a diferença era nítida. Muitos disseram que o lugar era bom e tranquilo. Só lamentavam que os terrenos não fossem deles. Os antigos barracos de lona ou de outros tipos de materiais haviam sido substituídos por pequenas casas de madeira. Estavam contentes porque tinham “transporte coletivo na porta” e várias escolas na região, o que possibilitava que os filhos estudassem “perto de casa”. Algumas famílias já estavam se preparando para cultiva hortas e pomar. Era o primeiro passo para um vida menos pior.
(Publicada no jornal Correio do Estado no dia 16 de novembro de 2015)
Foto: Museu José Antonio Pereira (Fundador de Campo Grande) Fonte: Câmara Municipal de Campo Grande